Enquanto o brasileiro consome cerca de seis quilos de agrotóxicos por ano, o mato-grossense chega a quase dez quilos. São aproximadamente 20 milhões de hectares plantados em Mato Grosso, o maior produtor nacional de grãos e, consequentemente, campeão na utilização de agrotóxicos. “Esse assunto não pode continuar embaixo da mesa”, disse o deputado Wilson Santos (PSDB), que fez uma audiência pública para discutir o tema na Assembleia Legislativa. Foram seis horas de discussões com o auditório Milton Figueiredo superlotado.
Dos 141 municípios do Estado, 54 possuem grandes monoculturas e produzem 70% dos produtos agrícolas, onde são usados na mesma porcentagem quantidades de agrotóxicos e fertilizantes. Pesquisas científicas feitas em Lucas do Rio Verde, por exemplo, comprovam altíssimo grau de contaminação do leite materno. Também foram registradas mortes, este ano, por contaminação no Estado. “Este assunto tinha que vir à luz da sociedade”, afirmou.
Pesquisas científicas feitas em Lucas do Rio Verde – conforme o deputado -, já comprovaram altíssimo grau de contaminação do leite materno. “Já temos mortes acontecidas em Mato Grosso este ano por contaminação de agrotóxico. Temos denúncias de que há um excesso, cada vez maior, de uso de agrotóxicos. Por isso decidimos promover o debate para ter mais conhecimento do assunto e encontrar rumos para a construção de políticas públicas que garantam mais qualidade de vida à população”, resumiu.
O parlamentar observou que não é contra o aumento da produção estadual. “Longe de ser contra Mato Grosso perder o título de celeiro do mundo. Temos é que buscar uma produção de qualidade, que não coloque em risco nenhuma família e que o mundo não venha, futuramente, vetar os nossos produtos”, disse.
Estudos feitos pelos professores e pesquisadores do Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde dos Trabalhadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e da Fundação Osvaldo Cruz mostram que nas três regiões do agronegócio da soja, milho e algodão, há uma incidência três vezes maior de intoxicação. Wanderlei Pignati, coordenador da pesquisa, foi um dos oradores da audiência pública. Segundo ele, foram conduzidas análises ambientais e examinados a urina e o sangue de moradores das páreas rurais e urbanas de Lucas do Rio Verde e Campo Verde, municípios que estão entre os principais produtores de grãos do Estado.
Professor e médico, Pignati afirmou que o estudo encontrou resíduos de agrotóxicos no leite materno. “Os estudos também indicaram o aumento da incidência de doenças como má-formação genética, câncer e problemas respiratórios, especialmente em crianças. Para nós da saúde pública não existe uso seguro de agrotóxico”, completou.
O procurador do Ministério Público do Trabalho, Leomar Daroncho, diz que o problema dos agrotóxicos preocupa muito. “Existe uma legislação que permite o uso, mas tem de se melhorar os mecanismos de controle, principalmente de acompanhamento dos trabalhadores e das pessoas que estão expostas a esses produtos”. Ele destacou a iniciativa das discussões e adiantou que o Ministério Público está buscando estratégias e formas de atuação que resguardem os direitos das comunidades mais afetadas pelo modelo de desenvolvimento implantado na maioria das regiões. “Não tem como perder de vista a importância deste tema”.
“Mato Grosso é um estado altamente produtivo, protagonista na produção agropecuária e de grãos. É um estado que não contamina, que usa os agrotóxicos como tem de ser usado, conforme as recomendações da Anvisa”, afirma o presidente da Federação Mato-grossense da Agricultura (Famato), Rui Prado. Segundo ele, o produtor mato-grossense produz de forma sustentável. “Temos uma legislação conservadora e utilizamos esses produtos na forma da lei, respeitando o meio ambiente”, diz.